Decisões importantes: Câncer e Planejamento familiar
Important decisions: Cancer and family planning

Ao longo da vida, todos tomamos decisões importantes. Em momentos de equilíbrio emocional essas decisões tendem a ser tomadas de maneira mais consciente e adequada. Uma dessas decisões refere-se ao planejamento familiar, a escolha entre ter ou não filhos, quando, quantos. O adoecimento desestrutura o indivíduo e a família, e quando se trata de um câncer, a situação se agrava, pois apesar dos avanços da medicina, com chances de cura e aumento da sobrevida, o câncer ainda está associado à ideia de morte e todo o processo de tratamento envolve intenso sofrimento físico e psíquico. Uma série de decisões importantes precisam ser tomadas quando se descobre com câncer, como a escolha do medico, tipo de cirurgia, escolha de tratamento, clínica de preferência, entre outras. Essas decisões são permeadas por angústia e sofrimento. Nesse contexto, o planejamento familiar e outros projetos pessoais acabam ficando em segundo plano, dando lugar a um projeto maior, que é a luta pela própria vida. Dentre os efeitos adversos do tratamento oncológico, a infertilidade é altamente prevalente, influenciada por fatores diversos, como a própria doença, tipo de medicação utilizada, local e dose de radiação, sexo e idade do paciente. Estudos revelam que a preservação da fertilidade é considerada muito importante pelos pacientes em tratamento oncológico e a infertilidade decorrente do tratamento está associada a altos níveis de estresse. A preservação de gametas antes do tratamento é considerada por esses pacientes como um fator positivo para o enfrentamento do mesmo. Apesar de já haver Guidelines estabelecidos pela ASCO e ASRM que determinam a obrigatoriedade da abordagem da infertilidade como possível efeito adverso do tratamento, bem como a necessidade de serem discutidas opções de preservação da fertilidade antes do início do tratamento, estudos apontam que 50% dos pacientes não recebem informações sobre o assunto. Devemos lembrar que é vedado ao médico, conforme o código de ética médica em seu artigo 34, deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar dano, devendo, nesse caso, fazer a comunicação a seu representante legal”. Para que o paciente com câncer possa tomar decisões referentes ao planejamento familiar, nesse momento de desestruturação emocional e com pouco tempo para tomada de decisão, torna-se fundamental o estabelecimento de uma parceria médico-paciente em que o primeiro seja um facilitador e que através da escuta e do conhecimento do desejo do outro possa disponibilizar informações e esclarecer dúvidas que contribuam para a tomada de decisão.

Claudia Waymberg Goldman
Psicóloga do Instituto de Ginecologia da UFRJ e do CENTRON, Centro de Tratamento Oncológico –RJ, Brasil Lee SJ, Schover LR, Partridge AH, et al. , American Society of clinical oncology recommendations of fertility preservation in cancer patients, J Clin Oncol, 2006; 24:2917-31. Ethics Committee of the American Society of Reprotuctive Medicine, Fertility preservation and reproduction in cancer patients, Fertil Steril, 2005; 83:1622-8. 

Posts Relacionados