Náuseas e Vômitos no Tratamento Oncológico

Náuseas e vômitos estão entre os sintomas mais recorrentes e um dos que mais afetam a qualidade de vida dos pacientes em tratamento oncológico. O conhecimento dos mecanismos fisiopatológicos e do manejo eficaz desses sintomas por parte da equipe mutidisciplinar é de fundamental importância para a adesão ao tratamento quimioterápico com agentes antineoplásicos.

Segundo a definição de Morrow e Rosenthal (1996), "náusea é a sensação desagradável da necessidade de vomitar, geralmente acompanhada de sudorese fria e refluxo do conteúdo intestinal para o estômago. Vômito ou êmese é a expulsão rápida e forçada do conteúdo gástrico através da boca, causada por uma contração forte e sustentada da parede torácica abdominal.”

É fundamental q o profissional de saúde questione e avalie os sintomas expostos pelo paciente seguindo os critérios listados abaixo:

  • Classificação das náuseas e vômitos:

Náuseas: a fase aguda é aquela compreendida entre as primeiras 24 horas, a fase tardia após 24 horas podendo durar até cinco dias ou mais;

Vômitos: antecipatórios ocorrem 24 horas antes da administração e por último a fase refratária, onde os episódios acontecem mesmo após de todos os controles prévios.

  • Potencial Emetogênico

De acordo com os consensos da Europen Society for Medical Oncology (ESMO) e da Association os Supportive Care in Cancer (MASCC 4), temos elencados os seguintes grupos de risco de náuseas e vômitos:

  • Alto, onde o risco dos sintomas acontecem a em aproximadamente 90%  (ou mais) dos pacientes;
  • Moderado, esse risco ocorre em 30% a 90% dos pacientes;
  • Risco baixo, em 10% a 30% dos pacientes e risco mínimo, com menos de 10% de risco.

Para se chegar a esses grupos de risco foi utilizado como critério a freqüência de êmese aguda em pacientes adultos que receberam quimioterapia com agentes antineoplásicos IV (via intravenosa), sem nenhum tratamento antiemético prévio.

Os agentes antineoplásicos foram distribuídos entre esses grupos de risco e o  médico prescritor deve levar sempre em consideração nos regimes de poliquimioterapia a droga com maior potencial emetogênico do esquema para prescrever o esquema antiemético que melhor controle os episódios de náuseas e vômitos.

Em 1999 a ASCO (American Society of Clinical Oncology) publicou o primeiro guideline para o tratamento de náuseas e vômitos em pacientes oncológicos. Ao longo dos anos, ele é atualizado de acordo com o que vem sendo descoberto sobre  terapia antiemética e a melhor conduta a ser adotada.

A seguir mostraremos um breve resumo dos esquemas propostos.

  • Tratamento para esquemas de alto potencial emetogênico:
    • Fosaprepitante 150 mg IV ou aprepitante 125 mg VO (via oral) no D1 da quimioterapia e 80 mg no D2 e D3 em associação com granisetrona 1 mg ou 0,01 mg/kg IV ou ondasentrona 8 mg VO em duas tomadas por dia e 8 mg ou 0,15 mg/kg IV ou palonosetrona 0,25 mg IV no D1. Deve-se acrescentar também, dexamatasona 12 mg, VO ou IV no D1 e 8 mg VO ou IV nos dias 2 e 3 (outra opção é utilizar do D2 a D4). Aqui é importante ressaltar que estudos demonstram que a palonosetrona oferece uma maior proteção contra náuseas e vômitos, principalmente durante o período de 24 a 120 horas após a quimioterapia.
  • Tratamento para esquemas de moderado potencial emetogênico:
    • Palonosetrona 0,25 mg IV no D1 associado com dexametasona 8 mg VO ou IV no D1 da quimioterapia e 8 mg nos D2 e D3.
  • Tratamento para esquemas de baixo potencial emetogênico:
    • Dexametasona 8 mg, VO e IV, no D1 e 8 mg no D2 e D3.
  • Tratamento para esquemas de mínimo potencial emetogênico:
    • Não existe indicação.

Importante salientar que esses agentes para profilaxia da êmese possuem efeitos adversos significativos que devem ser avaliados no momento da decisão sobre qual esquema antiemético será utilizado.

Ondasentrona, granisetrona e palonosetrona podem causar diarreia, constipação, cefaleia e elevação das enzimas hepáticas. Já o fosaprepitante e aprepitante estão relacionados com fadiga, vertigens e também elevação das enzimas hepáticas. E por fim a dexametasona está associada com o aparecimento de prurido anal e vaginal.

Com a evolução da terapia voltada para profilaxia de náuseas e vômitos, muitos pacientes estão sendo beneficiados. Mas alguns ainda sofrem com esses sintomas e muitas vezes sentem a necessidade de interromper um tratamento que poderia dar uma resposta satisfatória. Novas abordagens precisam ser estudadas e avaliadas, principalmente para pacientes pediátricos e que estão sendo submetidos a radioterapia.

Maria Castro, Farmacêutica do Centron ( perfil )